Selminha era uma garota que gostava muito de ler. Aquela era uma data especial porque era o dia do seu aniversário. A sua Mãe, após abraçá-la e beijá-la, disse: “Aqui está um envelope com o valor que você me pediu, há duas semanas, para comprar um livro. Pode comprá-lo, Filhinha!... Vá à livraria e compre o livro que você tanto deseja. Mas lembre-se: Vá apenas até a livraria; não entre na floresta.”. A Mãe de Selminha não precisou falar duas vezes. Ela ficou muito feliz quando viu a Filha sair cantarolando.
Selminha caminhou até a livraria que ficava em uma esquina próximo à entrada da floresta. Ela parou em frente à vitrine e ficou olhando para os livros, como sempre costumava fazer. O encantamento que os livros exerciam sobre ela só foi quebrado quando ela ouviu um barulho e notou que havia um livro bem perto de onde ela estava. Ela olhou ao redor à procura de quem poderia tê-lo derrubado; e sentiu um calafrio quando viu duas mulheres entrando na floresta: uma jovem, que caminhava lentamente e carregava uma cobra apoiada em seu ombro esquerdo, e uma velhinha, que, apesar da idade avançada, caminhava rapidamente.
Selminha, segurando o livro que apanhou do chão, perguntava-se qual delas poderia tê-lo deixado cair. A mulher mais jovem não parava de olhar para trás em sua direção, e ela resolveu segui-la. A mulher caminhava alguns passos e olhava para trás, caminhava e olhava para trás, ocasionalmente esboçava um sorriso estranho e continuava caminhando... Selminha já estava ficando cansada quando viu a mulher parar em frente a uma árvore. A garotinha sentiu o corpo todo tremer no instante em que viu a cobra adquirir luminosidade e inclinar-se na direção da árvore. Uma porta também luminosa apareceu misteriosamente no tronco da árvore, e a mulher empurrou-a para que ela abrisse. Deliciando-se com o espanto que mantinha os olhos de Selminha arregalados, ela sorriu e convidou-a a entrar.
Selminha, após vencer o medo,
aceitou o convite e ficou maravilhada com o tanto de corredores e cômodos que
havia dentro da árvore. A mulher disse: “Meu nome é Suzarema. Nasci e cresci
nesta floresta. Nunca tive problemas até aquela fada misteriosa aparecer!... Ela esconde o rosto com uma máscara que
ostenta um bico de ave!... Como se isso não bastasse, ela ainda pinta o corpo e
carrega asas falsas!... Por que digo isso?!... Se as asas fossem reais, ela não
precisaria locomover-se deitada nas costas de um pássaro, que também foi criado
com magia. Até o cabelo dela é tingindo!...”.
Após uma breve pausa, Suzarema
acrescentou: “Você precisa me ajudar a capturar a fada. Está vendo este vidro?... Saia
e leve-o com você. Está vendo também este apito?... Sente-se recostada ao
tronco da minha árvore, sopre o apito, e o pássaro que carrega a fada será
atraído. Quando ele pousar, toque novamente o apito, o pássaro desaparecerá, e
a fada ficará reduzida a uma estátua de pedra. Faça o que eu disse... E, quando
você me entregar o vidro com a fada, eu lhe darei um presente maravilhoso: esse
livro que você encontrou. Sim, o meu
livro será seu. Hoje é seu aniversário, Selminha!... Parabéns, querida!...”.
Desconfiada, Selminha perguntou:
“Como sabe que hoje é meu aniversário?”. Colocando o braço direito ao redor dos
ombros de Selminha com a intenção de conduzi-la até a porta da árvore, Suzarema
disse com voz pausada e suave: “Eu posso adivinhar o presente, o passado e o
futuro, porque consigo ver o que está no coração das pessoas; e sei que você
atenderá ao meu pedido porque deseja tornar este seu aniversário uma data
inesquecível!... O livro é mágico e ele sempre tomará a forma do livro que você
desejar. Sim, querida, você não precisará mais esperar até os seus pais lhe
darem o dinheiro para que você possa comprar seus livros. Agora vá. O pássaro e a fada já estão
sobrevoando a floresta.”.
Selminha, segurando o vidro e o
apito, saiu da árvore e sentou-se recostada à sua sombra. O dia estava quente,
e ela imaginou quanto seria bom se pudesse beber um delicioso e refrescante
copo de suco de laranja. Um pouco assustada e feliz ao mesmo tempo, ela sorriu
quando um copo surgiu ao seu lado. Após beber o suco, ela soprou o apito.
Minutos depois, lá estava o pássaro pousando bem à sua frente. A fada, enquanto
descia das costas do pássaro, perguntou: “O que está fazendo?!... Não conheço
você!... Onde está Suzarema?!... Foi ela quem mandou você tocar o apito?!...
Por favor, não o sopre novamente.”.
Tarde demais!... A fada mal acabou de falar, e Selminha já havia soprado o apito. Com o coração suportando o peso do receio de ter feito algo errado, a garota segurou delicadamente a fadinha e colocou-a dentro do vidro. Ela já se preparava para rosquear a tampa, quando viu surgir à sua frente a velha que ela vira anteriormente.
Apavorada, Selminha implorou:
“Por favor, não me mate!... Por favor, não me transforme em algum bicho
horrível e repugnante!... Por favor, deixe-me ir!...”. Calmamente, a velhinha
ordenou: “Entregue-me o vidro e o apito. Pode ir. Você não é
minha prisioneira. Nunca mais volte a esta floresta.”.
Arrependida, Selminha
aventurou-se a dizer: “Perdoe-me... Eu não sou má... Eu só desejava ganhar o
livro mágico.”. A velhinha perguntou: “Gosta de histórias?!... Então preste atenção a esta História, porque ela é
real. Sim, ela é verdadeira... Não é fruto da imaginação de ninguém... Amélia possui
um dom que pode acarretar graves consequências: ela consegue adequar o
sentimento das pessoas aos seus próprios sentimentos. Em outras palavras, ela
consegue fazer com que as pessoas se esqueçam de seus próprios desejos e se submetam
a fazer o que ela quer.”.
Selminha interrompeu a velhinha
quando comentou: “Ela não conseguiu evitar que eu soprasse o apito.”. Com o
olhar distante, a velinha afirmou: Ela teria conseguido detê-la se tivesse
desejado intensamente. Mas talvez ela já esteja cansada de carregar o peso do sofrimento
que o uso indevido de sua magia causou.”.
Após alguns segundos de silêncio,
a velhinha fixou o olhar no rosto de Selminha, antes de dizer: “O meu nome é Suzarete.
Sou uma fada, e desejava casar-me com Diogo, que também me amava. Amélia,
acreditando que estivesse apaixonada por Diogo, usou sua magia para afastá-lo
de mim. Ele se apaixonou por ela; mas, temendo que o amor de Diogo fosse mais
poderoso do que sua magia, Amélia desejou que a minha aparência fosse
modificada. Ela me transformou na pessoa que você está vendo. Mas tudo é
aparência, porque eu continuo sendo a mesma fada e ainda amo Diogo.”.
Enxugando as lágrimas que teimavam em cair, Suzarete continuou: “Diogo não era o verdadeiro amor de Amélia, e ela logo descobriu isso. Ela se apaixonou por Silas e teve que confessar a Diogo que usara sua magia para fazê-lo deixar de gostar de mim. O encanto se quebrou parcialmente, e ele desde então tem me procurado. Mas eu me escondo, porque desejo que ele se lembre de mim como eu era, e não que ele me veja como eu aparento ser agora. Amélia e eu éramos amigas; e, um dia, ela me procurou para dizer que de nada adiantara ela desejar de todo o coração que eu voltasse a ser como eu era; e que ela só seria feliz com Silas quando eu pudesse ser feliz com Diogo. Silas concordou em esperar e ofereceu-se para ajudá-la. Amélia não possui asas, e ele pediu a ela que desejasse que ele pudesse conduzi-la a todos os lugares que ela desejasse ir. Ele assumiu a aparência de um pássaro, e ela diminuiu de tamanho e assumiu a forma que você viu antes que ela se transformasse em uma estátua de pedra. Agora Silas desapareceu, e eu não sei trazer Amélia de volta à vida.”.
Timidamente, Selminha
confidenciou: “Eu gosto muito do meu cachorrinho de pelúcia. Nós brincamos
sempre de inventar histórias. Nós também
agimos como se fôssemos personagens. Certo dia, um feiticeiro malvado deu a ele
um veneno, e ele morreu. Eu fiquei muito triste e o segurei de encontro ao
coração. Como num passe-de-mágica, o coraçãozinho dele voltou a bater. Você
também é Fada, por que você não segura a pequenina Amélia junto ao seu coração?!...”.
Olhando ternamente para Selminha,
Suzarete retirou Amélia do vidro e aproximou-a de seu coração. Logo, os fios de
luz que começaram a emanar de seu coração envolveram Amélia, e a pequena
estátua de pedra desapareceu. No instante seguinte, a magia tornou-se ainda
mais poderosa, e os olhos de Selmina deliciaram-se ao ver, em vez da velhinha,
a verdadeira aparência de Suzarete. Sim, Suzarete voltara a ser Fada, e a
alegria que ela sentiu ao ver Silas e Amélia surgirem na sua frente como eles
realmente eram fez com que ela se tornasse ainda mais bela. Os três sorriram e
despediram-se de Selminha.
Sentindo-se muito feliz, Selminha
pensou em bater à porta da árvore de Suzarema para contar a ela o que havia
acontecido. Mas desistiu da ideia ao lembrar-se de que ela tinha acesso ao
presente, ao passado e ao futuro. Sorrindo, Selminha apanhou o vidro, o apito e
o copo, e depositou-os ao lado da porta da árvore. O seu coração ficou ainda
mais repleto de alegria quando o vidro, o apito e o copo desapareceram; e, no
lugar deles, surgiu o livro que ela tanto desejara. Selminha agradeceu o
presente, em pensamento, a Suzarema e deixou a floresta. Em vez de comprar um
livro, ela preferiu passar na confeitaria e comprar um bolo. Afinal de contas,
ainda era o seu aniversário!...
Sisi Marques