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A CORUJINHA QUE NÃO SABIA CONTAR




Jainha era uma corujinha muito prestativa. Ela estava sempre pronta para auxiliar Jubinha, o leão. Certo dia, Jubinha perguntou a Jainha: “Você sabe quantos animais existem nesta floresta?” Jainha, que nunca mentira em sua vida, preferiu mentir a decepcionar o seu amigo. Ela respondeu: “Sim. Eu adoro contar!... Eu sei quantos animais há, quantas árvores, quantas flores!... Contar é o meu passatempo favorito.” Jainha preocupou-se terrivelmente quando ouviu Jubinha dizer: “Isso é bom, Jainha, muito bom! Você deverá contar os animais com frequência, porque existem rumores de que a bruxa de coração empedernido foi vista rondando as florestas e já roubou vários animais para transformá-los em pedra.”

Antes mesmo que Jubinha se afastasse, Jainha já havia mergulhado em seus pensamentos. Ela estava muito arrependida de ter mentido e sentiu necessidade de conversar com sua amiga, a professora Juju. Sem perder tempo, ela voou em direção à árvore da coruja que aprendera a ler e escrever, pousada no peitoril da janela de uma escola. Esperançosa, Jainha pensou: “Juju também deve ter aprendido a contar.”

Infelizmente, Jainha havia se enganado. Juju se preocupara tanto com as letras que não teve tempo de prestar atenção aos números. Jainha, após o seu encontro com Juju, pensou: “Se Juju aprendeu a ler frequentando a escola, eu aprenderei a contar.” E, todos os dias, lá estava a corujinha Jainha, pousada no parapeito da janela, com a atenção voltada para a lousa, ouvindo as explicações da Professora.

Da bruxa de coração empedernido, ninguém nunca mais ouviu falar. Mas a corujinha Jainha, após ter aprendido a contar, ficou tão famosa quanto a corujinha Juju, que havia aprendido a ler e escrever.



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O PRÍNCIPE E AS FLORES DA SABEDORIA




Era uma vez um principezinho que passava sua infância divertindo-se com as brincadeiras que o bobo da corte inventava. Certo dia, o príncipe comentou: “Você deveria me ensinar a ler e escrever.” E o bobo da corte exclamou rindo: “Eu não posso ensinar o que não sei!... E você não deveria se preocupar com o que o seu pai diz!... Se eu que sou um simples bobo da corte nunca precisei ler nada, você que é o único herdeiro do trono, se um dia precisar ler alguma coisa, poderá ordenar aos conselheiros que leiam para você!... Melhor mesmo é nos divertirmos, em vez de perdermos tempo com essas inutilidades!...”

Os anos se passaram, e o rei resolveu confiar ao príncipe uma missão. Ele disse: “Filho, você já não é mais uma criança, e eu preciso saber se está pronto para governar. Eu lhe entregarei um mapa que o conduzirá, em segurança, a uma parte da floresta proibida onde nascem as flores da sabedoria. Não se distraia, e siga fielmente as orientações do mapa. Lembre-se: você terá que partir sozinho. Levará apenas o seu cavalo e provisões.”

O jovem príncipe partiu na manhã seguinte. Para ele, o mapa era desnecessário, porque ele não conseguia entender nada do que estava escrito. Ele pensou que jamais encontraria o caminho para a floresta proibida e, muito menos, o lugar onde poderia colher as flores da sabedoria. Num momento de desespero, ele ameaçou rasgar o mapa. Mas ele reprimiu o gesto, quando reparou que, no mapa, não havia apenas letras, havia também desenhos. A esperança o abraçou, timidamente, quando ele compreendeu que nem tudo estava perdido.

Uma viagem que teria durado dias, durou meses!... Embora ele observasse atentamente a paisagem ao seu redor e a comparasse com os esboços no mapa, ele sempre acabava se perdendo e tinha a sensação de estar percorrendo várias vezes o mesmo caminho.

Mas o problema não foi apenas o tempo insano que ele gastou na busca. As orientações sobre como evitar as situações de perigo passaram despercebidas, porque  tinham sido cuidadosamente detalhadas em um texto que fora escrito no verso do mapa. Por não saber ler, o príncipe foi conduzido a muitas desventuras. Ele foi capturado para servir de brinquedo para os filhos de um gigante. Ele teve sorte de escapar do caldeirão de uma bruxa antes que ela ateasse fogo à lenha. E ele quase sucumbiu aos encantos de uma fada que desejava aprisioná-lo.

Quando o príncipe retornou, sete anos depois, montado em seu cavalo, todos ficaram mais admirados do que felizes, porque imaginavam que ele tivesse perecido em sua missão.

O rei, enquanto o abraçava, perguntou: “Você encontrou as flores da sabedoria?!... Conseguiu colher alguma?!” O príncipe respondeu: “Não. Mas eu sonhei com elas e, ao contemplá-las, ouvi uma voz feminina dizer: ‘Nenhuma magia lhe conferirá sabedoria. Sábio é aquele que percorre o caminho que outros já trilharam, ouvindo os seus conselhos para evitar cometer os erros que eles cometeram. É verdade que nem sempre conseguiremos fugir dos enganos. Mas aqui está o segredo: Até mesmo na ignorância, existe sabedoria, porque a ignorância nos dá a oportunidade de aprendermos com nossos próprios erros.’ Eu já decidi: começarei a estudar, construirei escolas, e todos os nossos súditos aprenderão a ler e escrever.”


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O DUENDE, OS ANIMAIZINHOS, A BRUXA E A FADA



Era uma vez um duende que se considerava o dono da floresta. Ele andava de um modo muito engraçado, e os animaizinhos riam dele o tempo todo!... Alguns diziam que ele se remexia tanto, quando arrastava os pezinhos, que parecia uma geleia. Ele se zangava e colocava as mãozinhas na cintura enquanto dizia: “Pensam que não ouvi?!... Eu sou os olhos e os ouvidos desta floresta. Aqui nada acontece sem que eu saiba.”

Certo dia, porém, não foram apenas os animaizinhos que o ouviram afirmar que nada acontecia sem que ele soubesse. A bruxa, que começara a utilizar o tronco de uma árvore como entrada para a sua casa subterrânea, também o ouviu e começou a gargalhar enquanto dizia baixinho: “Geleia, geleia convencida, se permanecer fora do vidro, poderá estragar!... Vamos providenciar para que fique protegida!... Um, dois, três e já!!!...”   

No momento seguinte, o duende estava se debatendo dentro de um vidro pouco maior do que ele. Os animaizinhos, no início, começaram a rir. Mas, depois, ficaram preocupados. Um macaquinho ousou perguntar: “Quem prendeu o nosso amiguinho?!...” Todos ficaram apavorados quando a bruxa apareceu, dançando ao redor de sua vassoura. Ela respondeu: “Fui eu!... Agora serei eu a rainha desta floresta, e nada acontecerá sem que eu ordene.”

A bruxa não teria ficado tão confiante se soubesse que uma fada a observava, acariciando docemente as pétalas de sua flor. A fada disse baixinho: “Rainha, rainha de mentirinha, embora eu seja pequenina, o meu poder é maior do que o seu, e eu ordeno que você liberte o duende e voe para bem longe, montada em sua vassoura!... Um, dois, três e já!!!...”

A fadinha mal acabou de pronunciar essas palavras, e todos, inclusive o duende, ficaram muito felizes ao ver a bruxa, em sua vassoura, desaparecer entre as nuvens. Se você estiver pensando que nada mudou naquela floresta, está completamente enganado!... Embora o duende continue andando daquele mesmo jeito engraçado, e os animaizinhos ainda riam dele; ele aceita a brincadeira e não se zanga. Agora, ele costuma dizer: “Podem rir à vontade!... Estamos todos felizes, graças à fadinha amiga, que é os olhos e os ouvidos desta floresta. Aqui nada acontece sem que ela saiba.”


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HAVIA UM LEÃO NA MINHA CAMA



Enquanto a mamãe estava fazendo o café, ela disse: “Eu não consegui dormir, porque havia um leão na minha cama.” Essas palavras ficaram rodopiando na minha cabeça o dia inteirinho.

Quando a noite chegou, o papai leu uma história e perguntou se eu gostaria que ele apagasse a luz. Eu respondi: “É melhor não, porque o leão, que está embaixo da minha cama, ficará com medo do escuro e não me deixará dormir.” O papai comentou em tom de brincadeira: “Mas ele também não conseguirá dormir se deixarmos a luz acesa. Eu tive uma ideia: pegue a sua girafinha e venha dormir comigo e com a mamãe!...”

Minutos depois, lá estava eu deitado no meio da cama dos meus pais. O sono começou a chegar... Eu cochilei, mas logo acordei assustado com o rugido de um leão. Fiquei quietinho e escutei um novo rugido, mais um e mais outro... Eu quase morri de susto quando ouvi minha mãe dizer: “Vire para o lado e pare de roncar, Otávio!!!...” Foi só naquele momento que eu descobri que o leão era o meu pai.