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O Príncipe e o Monstrinho




Era uma vez um príncipe que passava longas horas em seu laboratório instalado na torre do castelo, criando monstros. Como o rei não aprovava esse seu passatempo, e tudo fazia para que material algum chegasse em suas mãos, o príncipe via-se obrigado a criar e recriar sempre o mesmo monstro. Para isso, colocava-o a todo instante em sua engenhosa máquina cilíndrica de reciclagem de monstros.

O príncipe tanto reciclou o pobre monstrinho que acabou dotando-o de personalidade; e o monstrinho, reagindo, não quis mais submeter-se àquelas constantes transformações.

O príncipe teve que pensar em outra coisa que pudesse servir para suas experiências. E, assim, foi ao quarto de sua irmã e apanhou a boneca de pano maior que encontrou. O monstrinho começou a caçoar dele, dizendo que ele começara a brincar com bonecas.

Como o príncipe não fez caso de suas provocações, o monstrinho zangou-se; e, para
vingar-se do seu criador, empurrou-o para a máquina de reciclagem, onde já estava a boneca.

Felizmente quando o monstrinho, arrependido, abriu a porta da máquina de reciclagem, o príncipe estava bem. A boneca, contudo, havia desaparecido, e suas roupas tinham sido transferidas para o príncipe.

Sentindo-se ridículo naqueles trajes femininos, o príncipe, irritado, começou a correr atrás do monstrinho; e, para sua desgraça, o rei entrou no laboratório.

Constrangido, o príncipe tentou explicar; mas o rei, envergonhado, ordenou aos guardas que o trancafiassem até que aprendesse a se comportar como um príncipe.

Entretanto, o príncipe detestava a ociosidade, e conseguiu convencer os guardas a trazer-lhe material para que pudesse se ocupar. Quando o rei descobriu, mandou prender os guardas, e condenou-os à morte.

Sentindo-se responsável pela desventura dos leais servidores, o príncipe pediu para ser levado à presença do rei.

O rei o recebeu, e o príncipe disse:

– Não é justo que aqueles homens paguem por um crime que eu cometi. Se alguém tem que morrer, esse alguém sou eu. Depois de libertá-los, poderá fazer comigo o que quiser.

Orgulhoso pela coragem e nobreza de caráter que o príncipe revelara, o rei o perdoou, e perdoou também os guardas; mas o fez prometer que desativaria o seu laboratório.

O príncipe pediu ao rei que o deixasse fazer uma última reciclagem; e, assim, transformou o monstrinho em um papagaio. O rei gostou do esperto bichinho, e nunca mais se aborreceu com o príncipe.

F   I   M

Sisi Marques


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