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Rafael, o Elfo e o Lobo

Rafael, um garoto de doze anos, costumava ajudar seu pai a vender legumes na feira. Aquela era a segunda vez que ele via o mendigo, com as costuras das calças desfeitas das barras até os joelhos, sentado na calçada, recostado no muro alto, que estabelecia o limite entre a vila e a floresta. Apesar da pouca idade, o garoto compadeceu-se do mendigo. Mas quem despertou ainda mais a sua compaixão foi o cachorro, que estava ao lado dele, e parecia prestar atenção a tudo o que acontecia ao redor.

Na verdade, o garoto não precisava ajudar o pai na barraca da feira que diariamente se instalava na praça, porque o seu pai contava com a assistência de Angenor, um empregado de confiança. Percebendo o quanto Rafael estava distraído, Angenor pensou que ele estivesse entediado e sugeriu que ele deixasse a barraca por alguns minutos, para comprar algo para comer e divertir-se um pouco.

O garoto aceitou a sugestão e apressou-se quando viu o mendigo levantar-se e caminhar, acompanhado de seu velho cão, em direção à passagem que conduzia à floresta. Rafael não hesitou em segui-los e, minutos depois, lá estava ele contemplando as árvores gigantescas que, segundo os moradores da vila, eram encantadas.

Embora a lenda dissesse que ninguém jamais conseguiria derrubar aquelas árvores, Rafael também já ouvira muitos lenhadores dizerem, a seu pai, que as histórias sobre as árvores não passavam de superstição, e eram elas que fortaleciam a lenda.  Eles tencionavam derrubar as árvores para alargar os limites da vila, que estava se tornando pequena para a população que não parava de crescer.

Pensando em tudo o que já ouvira dizer sobre as majestosas árvores, Rafael assustou-se quando um elfo e um lobo surgiram à sua frente. Confuso com a inesperada aparição, ele procurou desculpar-se dizendo que entrara na floresta apenas porque estava curioso para saber onde o mendigo e seu cão moravam, mas que, depois, os perdera de vista.

O menino sentiu-se desconfortável sendo o alvo do olhar penetrante do jovem elfo e de seu imponente lobo negro. As palavras eram desnecessárias, porque Rafael compreendeu logo a mensagem que aqueles dois habitantes da floresta desejavam transmitir: “O elfo era o mendigo, e o lobo o seu cão. Aquela floresta era o lar de muitos seres encantados. Rafael precisava voltar à vila e dizer a todos que aquele lugar precisava ser preservado para que eles pudessem sobreviver.”

Rafael parecia hipnotizado e só conseguiu fechar os olhos quando o elfo e o lobo negro desapareceram do mesmo modo misterioso que haviam chegado. Ele correu... Correu como um louco em direção à vila... Ele estava desesperado para repetir as palavras silenciosas que o seu olhar e a sua intuição conseguiram captar.

Rafael não possuía o hábito de mentir. Todos o consideravam íntegro e confiável, e a história que ele contou sobre sua incursão na floresta desencorajou os lenhadores de desafiarem a lenda.

Sisi Marques

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