Era uma vez um principezinho
que passava sua infância divertindo-se com as brincadeiras que o bobo da corte
inventava. Certo dia, o príncipe comentou: “Você deveria me ensinar a ler e
escrever.” E o bobo da corte exclamou rindo: “Eu não posso ensinar o que não
sei!... E você não deveria se preocupar com o que o seu pai diz!... Se eu que
sou um simples bobo da corte nunca precisei ler nada, você que é o único
herdeiro do trono, se um dia precisar ler alguma coisa, poderá ordenar aos
conselheiros que leiam para você!... Melhor mesmo é nos divertirmos, em vez de
perdermos tempo com essas inutilidades!...”
Os anos se passaram, e
o rei resolveu confiar ao príncipe uma missão. Ele disse: “Filho, você já não é
mais uma criança, e eu preciso saber se está pronto para governar. Eu lhe
entregarei um mapa que o conduzirá, em segurança, a uma parte da floresta
proibida onde nascem as flores da sabedoria. Não se distraia, e siga fielmente
as orientações do mapa. Lembre-se: você terá que partir sozinho. Levará apenas
o seu cavalo e provisões.”
O jovem príncipe partiu
na manhã seguinte. Para ele, o mapa era desnecessário, porque ele não conseguia
entender nada do que estava escrito. Ele pensou que jamais encontraria o
caminho para a floresta proibida e, muito menos, o lugar onde poderia colher as
flores da sabedoria. Num momento de desespero, ele ameaçou rasgar o mapa. Mas
ele reprimiu o gesto, quando reparou que, no mapa, não havia apenas letras,
havia também desenhos. A esperança o abraçou, timidamente, quando ele
compreendeu que nem tudo estava perdido.
Uma viagem que teria
durado dias, durou meses!... Embora ele observasse atentamente a paisagem ao
seu redor e a comparasse com os esboços no mapa, ele sempre acabava se perdendo
e tinha a sensação de estar percorrendo várias vezes o mesmo caminho.
Mas o problema não foi
apenas o tempo insano que ele gastou na busca. As orientações sobre como evitar
as situações de perigo passaram despercebidas, porque tinham sido cuidadosamente detalhadas em um
texto que fora escrito no verso do mapa. Por não saber ler, o príncipe foi
conduzido a muitas desventuras. Ele foi capturado para servir de brinquedo para
os filhos de um gigante. Ele teve sorte de escapar do caldeirão de uma bruxa
antes que ela ateasse fogo à lenha. E ele quase sucumbiu aos encantos de uma
fada que desejava aprisioná-lo.
Quando o príncipe
retornou, sete anos depois, montado em seu cavalo, todos ficaram mais admirados
do que felizes, porque imaginavam que ele tivesse perecido em sua missão.
O rei, enquanto o
abraçava, perguntou: “Você encontrou as flores da sabedoria?!... Conseguiu
colher alguma?!” O príncipe respondeu: “Não. Mas eu sonhei com elas e, ao
contemplá-las, ouvi uma voz feminina dizer: ‘Nenhuma magia lhe conferirá
sabedoria. Sábio é aquele que percorre o caminho que outros já trilharam, ouvindo
os seus conselhos para evitar cometer os erros que eles cometeram. É verdade
que nem sempre conseguiremos fugir dos enganos. Mas aqui está o segredo: Até
mesmo na ignorância, existe sabedoria, porque a ignorância nos dá a
oportunidade de aprendermos com nossos próprios erros.’ Eu já decidi: começarei
a estudar, construirei escolas, e todos os nossos súditos aprenderão a ler e
escrever.”
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