Esta não era a primeira vez que
Rubi dizia a Crisântemo em tom de reprovação: “Solte já essas flores!... O que
pensa que está fazendo?!...”. Como das outras vezes, ele tentou explicar, mas
ela se recusou a ouvir. Em vez disso, ordenou: “Desapareça, saia daqui!...”.
Crisântemo entristece-se profundamente e, com extremo pesar, atendeu ao pedido de Rubi e desapareceu na trilha que o conduziria de volta à Floresta dos Cogumelos Azuis.
Rubi também não se sentia nada
feliz, e só se lembrou de que tinha um encontro com o Sábio da Floresta, porque
ouviu o canto de pássaro que ele costumava emitir para avisar que estava se
aproximando.
Após cumprimentá-la cordialmente,
ele perguntou: “Quer mesmo saber a quem o Destino pretende uni-la?!... Não
precisa olhar para mim desse modo!... Por que os seus olhos sempre irradiam
impaciência e intolerância?!... Está bem!... Foi por esse motivo que você pediu
a Crisântemo que fosse à minha procura e marcasse este encontro, e é para lhe
revelar algo, que o seu coração já sabe e se recusa a aceitar, que estou aqui.”.
Rubi, deixando transparecer seu mau humor, sugeriu: “Por que não economiza as
palavras e vai direto ao assunto?!...”.
Esquadrinhando o rosto de Rubi, o
Sábio comentou: “Não é difícil descobrir por que você está tão zangada!...
Crisântemo deve ter se cansado de sua falta de delicadeza e partiu.”. Rubi não
mediu as palavras quando disse: “Eu não sou impaciente, intolerante, não me
zango facilmente e muito menos costumo ser indelicada!... O que vocês não
compreendem é a importância que as flores têm!... Tanto você quanto Crisântemo são insensíveis e tolos!... Você é outro que deveria
desaparecer do meu campo de visão!... Quero respostas e não recriminações!...
Agora só faltava você me dizer que o amor estava mais próximo do que eu
imaginava, e eu o mandei para longe!... A verdade é não, eu não estou
apaixonada por Crisântemo!... Como pode alguém, com nome de flor, arrancar da
terra as flores que encontra e ainda ter a audácia de ficar olhando para mim
com ternura, como se estivesse coberto de inocência?!... Cínico, isso é o que ele
é!...”.
Pacientemente, o Sábio disse:
“Você sabe que está errada e sabe também o motivo que levava Crisântemo a
colher as flores. Você nunca permitiu que ele explicasse. Mas eu sei, e você
também sabe que ele desejava entregá-las a você, porque esse seria um modo de dizer
que a ama.”. Rubi exclamou: “Ah, era só o que faltava!... Ele querer expressar
o seu amor por mim, ferindo todas as flores!... Não!... Ele fez muito bem em
voltar para o lugar de onde veio porque, na Floresta dos Cogumelos Azuis, só há
cogumelos azuis; nada mais cresce além daqueles cogumelos!... Por que está me
olhando com esse ar de complacência?!... Só faltava você dizer que eu deveria
descer deste meu formoso cogumelo vermelho; sim, porque todos os cogumelos deveriam
ser vermelhos, e ir ao encontro de Crisântemo na Floresta dos Cogumelos
Azuis!... Isso não!... Isso nunca!...”.
Depois que o Sábio partiu, os
minutos, as horas e os dias se passaram deixando atrás de si amargura, solidão
e tristeza. Rubi nunca havia chorado e, de repente, lágrimas começaram a rolar
pelo seu rosto. O pensamento de que talvez estivesse apaixonada por Crisântemo
começou a assustá-la, mas depois trouxe paz e alegria ao seu coração. Sim,
havia chegado o momento de ela descer de seu cogumelo majestoso e entrar na
Floresta dos Cogumelos Azuis. Mas ela só aceitaria o amor de Crisântemo se ele
prometesse nunca mais colher as flores que ela tanto amava.
Sisi Marques
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