Aloísio, todas as
manhãs, levantava cedinho e ia ao mercado para abastecer sua velha carroça com
verduras, frutas e legumes. Depois, passava o dia inteirinho visitando seus
fregueses. Muitos deles moravam longe da vila, e Aloísio precisava percorrer a
longa estrada de terra para atendê-los.
Em uma dessas viagens,
Aloísio se compadeceu de uma velha senhora que caminhava sozinha pela estrada poeirenta.
Atenciosamente, ele parou a carroça e ofereceu-se para levá-la aonde ela
precisava ir. Eis o que a estranha senhora respondeu: “Eu não preciso da ajuda
de ninguém para chegar ao meu destino, pois sei muito bem aonde quero chegar.
Mas você, Aloísio, precisará da ajuda de gente miúda para encontrar a sua prosperidade.”.
Confuso, Aluísio
perguntou: “Como sabe o meu nome?!...”. E a velhinha, que já havia começado a
se afastar, disse: “Há cogumelos gigantescos no Bosque das Margaridas!...
Ninguém reparou neles, porque eles não servem para comer e não têm a cor do
ouro. Talvez apenas os puros de coração consigam vê-los... O seu coração é
puro, Aloísio Verdureiro?!...”.
Aborrecido, Aloísio
seguiu em frente com a carroça!... Não prestaria atenção às palavras daquela
mulher que parecia maluca!... Entretanto, uma coisa era certa: Ele se lembrava
de ter visto os tais cogumelos quando ainda era garoto; mas, depois que cresceu
e começou a trabalhar, nunca mais teve tempo de retornar ao Bosque das
Margaridas. Aloísio balançou a cabeça e voltou a se concentrar nas entregas que
ainda teria que fazer. Quando voltou para casa, já havia anoitecido.
Na manhã seguinte, ele estacionou
a carroça na frente do mercado, mas não desceu porque se preocupou com a
agitação dos cavalos. Eles pareciam ver algo que ele não conseguia ver. Mas ele
desviou a atenção quando olhou para trás para ver quem havia dito: “Compre
tomates, muitos tomates!!!... Tomates redondos, cheirosos e bem
vermelhinhos!!!... Adoramos tomates!!!...”.
Não conseguindo
acreditar no que os seus olhos viam, Aluísio balbuciou: “Quem é você, e quem
são eles?!...”. Estufando o peito e endireitando o corpo para parecer maior, o
homenzinho respondeu: “Os grandalhões como você costumavam nos chamar de ‘gente
miúda’, mas atualmente ninguém mais consegue nos ver. A propósito, é impressão
minha ou você consegue mesmo me ver e ouvir?!... Se a resposta for sim, me diga
por que ainda não foi buscar os tomates!... Vá logo porque temos uma troca a fazer:
você compra dezessete tomates, e nós encheremos a sua carroça de legumes,
frutas e verduras!... Dezessete!... Lembre-se: você tem que trazer dezessete
tomates, porque cada um de nós tem uma família para sustentar.”.
Aloísio não questionou
a ordem... Desceu da carroça, entrou no mercado e voltou com dezoito tomates.
Aloísio também gostava de tomates e, naturalmente, um dos tomates era para ele.
Quando ele olhou para dentro da carroça, surpreendeu-se ao ver os homenzinhos
dançando e cantando canções em um idioma que ele desconhecia.
Aloísio teve que levar
os homenzinhos de volta ao Bosque das Margaridas, porque a magia deles não
seria suficiente para transportar também os tomates. Ele ficou encantado ao ver
as casinhas, ou melhor, os cogumelos onde os homenzinhos moravam. E
surpreendeu-se quando ouviu uma das crianças dizer: “A natureza é sábia.
Conseguimos produzir tudo, menos tomates. E é de tomates que mais gostamos. Se
soubéssemos cultivar tomates, acreditaríamos que somos autossuficientes e não
precisamos de ninguém. Mas sempre tivemos a necessidade de que alguém nos
trouxesse os tomates, e essa necessidade garantiu que não nos afastássemos
completamente dos seres humanos.”.
Aquele foi o início de
uma duradoura amizade que beneficiou a todos... Aloísio visitava os homenzinhos
diariamente, para levar-lhes os tomates e abastecer sua carroça com verduras,
frutas e legumes. Ele logo se tornou um comerciante próspero. Com a ajuda dos
homenzinhos, ele abriu o seu próprio mercado, contratou empregados e passou a
ter mais tempo para divertir-se na companhia de seus amiguinhos.
Texto: Sisi Marques
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