Era uma vez um rei
muito mau. Ele não gostava de seres mágicos, e ordenava que eles fossem
aprisionados na gruta escura.
A gruta escura era um
lugar encantado. Quem lá entrasse, perdia seus poderes mágicos e ficava
percorrendo sempre o mesmo caminho, sem conseguir localizar a saída. Temerosos
de ficarem perdidos naquele labirinto, os duendes, os gnomos, os elfos, as
fadas e até mesmo as bruxas se afastaram daquele reino. Mas a distância era
apenas física, porque o pensamento deles se mantinha preso à desventura dos
amiguinhos capturados.
Certo dia, o inesperado
aconteceu... Samuel, um contador de histórias, ignorando todos os conselhos e
advertências dos amigos, resolveu fazer uma visita àquele reino voltado
exclusivamente para esta realidade.
Embora Samuel fosse um
sonhador, ele não tinha o pensamento ancorado nas nuvens!... Ele acreditava na
magia, e os seus sonhos eram luminosos, dourados e tangíveis. Ele amava a
fantasia porque ela emprestava suas cores alegres a esta realidade sombria.
Por mais que os amigos
de Samuel, ao vê-lo partir, e os habitantes daquele reino, onde ele se
instalara, dissessem que ele era louco em desafiar o rei, ele permanecia
tranquilo, com um sorriso sereno iluminando sua personalidade cativante.
O próprio rei, em
outras circunstâncias, teria sentido admiração e respeito por Samuel. Mas como
ele poderia convidar para morar em seu castelo e colocar sob sua proteção um
homem que contrariava suas ordens e proibições?!... Não!... A realidade era a
rainha suprema daquele reino, e a fantasia precisava ser pisoteada e banida!...
Quanto a Samuel, o rei jurou que ele teria o fim que merecia: faria companhia
aos seres que tanto amava, na gruta escura.
Ser aprisionado na
gruta escura não era o fim que Samuel merecia, mas era certamente a
oportunidade que ele desejava. Dois anos antes, ele havia entrado em uma loja
de livros usados, para renovar o seu repertório, e encontrou uma pena dentro de
um dos livros que adquiriu. Nesse livro, havia uma história sobre o príncipe da
terra da fantasia. De posse de uma pena encantada, ele libertou os seres
mágicos da opressão de um rei que condenava a magia.
Samuel não perderia por
nada a oportunidade de verificar se a pena era mesmo encantada. Quando ele
entrou na gruta escura, contou aos serezinhos que possuía a pena e que os
libertaria. Embora eles estivessem muito tristes, ainda conseguiram rir da
desgraça, e um deles exclamou: “Tolo!... Você não deve acreditar em tudo o que
lê!... Nós existimos, mas nem tudo o que dizem sobre nós é verdadeiro!... Se
nós, que possuíamos poderes mágicos, ficamos presos nesta armadilha, como você
e essa sua pena poderiam nos libertar?!... Procure um lugar para esperar a morte e
mantenha a boca fechada!... Você ainda tem sorte de ser mortal!... Para nós,
esta prisão será eterna!...”.
Em meio àquela
escuridão, Samuel não conseguia ver os seres que se reuniam ao seu redor. De
nada adiantaria rebater o que um deles dissera!... Ele teria que agir e provar
que a pena era mesmo encantada!...
Ele retirou a pena do
bolso da camisa, fechou os olhos e concentrou toda a sua energia no desejo de
que a história que ele tinha lido fosse real, de que a pena fosse encantada, e de
que, após se tornar o príncipe da terra da fantasia, teria permissão para viver
ao lado daquelas criaturas mágicas. Era esse o grande sonho de Samuel:
pertencer a uma realidade mágica!...
E a magia que a pena
guardara durante séculos começou a funcionar... O brilho, no início tímido, aos
poucos foi se intensificando e só se extinguiu depois que todos os seres haviam
recuperado seus poderes mágicos. O encantamento da gruta escura tinha sido
desfeito... Os raios do sol iluminavam e revelavam a saída. Os seres mágicos
sorriam e endereçavam olhares de agradecimento a Samuel.
O coração de Samuel
também estava em festa!... Ele se sentia responsável pelo destino daquelas
criaturinhas tão frágeis e, ao mesmo tempo, tão poderosas!... Após a coroação,
uma fada entregou a Samuel um cálice que continha a água da fonte da juventude.
Ele agradeceu sorrindo e bebeu o líquido que o tornaria imortal.
Texto: Sisi Marques
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